domingo, 14 de agosto de 2011

Sociopoética, erros, acertos e outras coisitas mais...

Ontem, 13.08.2011, após a construção coletiva sobre o cronograma e quais seriam os temas geradores, feita nas duas oficinas anteriores, dei início às temáticas propriamente ditas e realizei a oficina: "Direitos Humanos - o que é isso?" no PASES.

A comunidade escolheu o atendimento para crianças e adolescentes. Por isso, eu e Veridiana nos dividimos em duas turmas: eu fiquei com as crianças de 06 a 11 anos e a Veridiana com os adolescentes de 12 a 19.
Para realizar o trabalho, escolhi aplicar a sociopoética. Esta metodologia foi apresentada à equipe pela querida colega Andreia Marreiro no Seminário Metodológico. Li alguns textos encaminhados pela Andreia e sua monografia que serviram para embasar o meu trabalho realizado com as crianças.

Além de mim e da Veridiana, estavam presentes como voluntários e observadores: três assistentes sociais da comunidade (Angela, Cida e Magna); meus primos: Helena Monteiro, Antonio José, Socorro Monteiro e Etiéne Monteiro; membros da entidade: Felipe, Júlio e Giovana.

O trabalho começou um pouco atrasado devido à demora na entrega do lanche e quando iniciamos as crianças pareciam já estar cansadas... Antes do lanche havíamos feito algumas brincadeiras aguardando a chegada da alimentação e foi um momento de riqueza, sorriso e muita descontração.

Após o lanche, nos dividimos em duas salas e dei início ao meu trabalho. Comecei repassando com eles o porque estávamos ali, quem éramos nós e o que faríamos ao longo do trabalho. Isso se fez necessário porque haviam algumas crianças que não estavam presentes nos encontros anteriores.

Para esta primeira oficina com a sociopoética, resolvi "plagiar" descaradamente a Andreia Marreiro, pois ainda me sinto um pouco insegura em relação à metodologia, e comecei pedindo que fizéssemos nossos crachás de identificação. Com lápis de cor, canetinha, lã e giz, os meninos e meninas deram início aos trabalhos com muita alegria e confeccionaram seus crachás. A maioria escolheu ser chamado pelo nome, mas surgiram crachás engraçados como "roqueira" e "campeão".

Depois da confecção dos crachás, apagamos as luzes da sala e assistimos a dois vídeos na tela do meu notebook. A reação da criançada aos vídeos foi fantástica. Eles prestaram muita atenção, pois o som estava baixo e se esforçaram muito para entender o que estava sendo falado.





Depois de assistirmos ao vídeo, conversamos sobre o que havia sido falado, o que eles tinham entendido e sobre os sentimentos que aqueles assuntos despertam neles.

Os direitos que eles consideraram mais importantes foram: alimentação, convivência familiar, nome, liberdade, educação e brincar. Alguns relataram sobre o fato de serem "xingados" pelos coleguinhas - uma pelo peso acima dos padrões, outro porque é negro. Alguns falaram sobre trabalho infantil. Uma das crianças falou sobre homoafetividade e sobre como uma das pessoas da comunidade é discriminada.

Após esta discussão, propus uma dinâmica de relaxamento para que fizéssemos uma viagem sobre o nosso "corpo do direito", nos termos que seguem:

Meus amores, agora vamos deitar e fechar nossos olhos, procurem relaxar, deixar os olhos bem fechados e liberar a mente. Vamos agora viajar... Viajar pelo corpo do direito. Pensem no seu corpo, viaje por cada partezinha dele... comecem pelos pés... são eles que seguram o seu corpo... que garantem a você a alegria de poder ficar em pé e caminhar... são eles que sustentam o seu corpo... sintam o pé do direito...devagarzinho, sintam seus dedinhos do pé, o pé inteiro, e pensem no direito que estes pés garantem a você... o direito de ir e de vir... vamos subindo devagar até as nossas pernas... sintam sua panturrilha, sua coxa, pensem em quantas vezes vocês usaram estas pernas para brincar, correr, jogar bola, subir em árvore, pular e elas são as pernas do direito... vamos subindo nos nossos órgãos que nos definem como menino ou como menina, que permitem a vida, que permitem a reprodução humana... sintam o direito à vida... obrigado, meu Deus pela nossa vida... continuemos subindo... vamos pra barriga, que abriga o alimento... o umbigo que nos alimentou enquanto éramos apenas um neném na barriga de nossas mães...  eles são a barriga do direito e o umbigo do direito... vamos subir para o nosso peitoral, o nosso coração... sinta como ele pulsa sem parar... ele é o coração do direito... os nossos pulmões... respire bem fundo e solte bem devagar... respire mais fundo e solte... continue respirando e agradeça a Deus este ar que entra dentro dos seus pulmões, que oxigena o seu corpo e a sua mente por meio deste pulmão do direito... agora sinta seus braços, os braços que te permitem tantos movimentos, as mãos, com que você escreve, come, desenha, brinca... sinta suas mãos e cada dedinho...  elas são as mãos de tantos direitos... sinta agora o seu pescoço, sua garganta , como ele segura a nossa cabeça e nos permite girá-la para um lado e para o outro... ele é o pescoço do direito... siga seu queixo... sua boca... quantas coisas a boca do direito pode fazer... a boca do direito de falar... de sorrir... de comer... de reclamar...  e o nariz... olha aí o nariz do direito... sem este nariz você não estaria vivo... é ele que permite que o ar chegue até os seus pulmões... e os olhos... os olhos do direito... o direito de olhar, de enxergar a justiça e se alegrar... de enxergar o que não é justo e tentar melhorar... o direito de querer mudar o mundo... de chorar quando está triste... estes são os olhos do direito... e os ouvidos do direito??? São eles que permitem que vcs me escutem agora... que ouçam sua música preferida, que ouçam o som dos pássaros, o latido do cachorro... Obrigado pelo ouvido do direito... Vamos agora ao seu cérebro... é ele que pensa... que manda em todo o seu corpo... se você quiser mexer o dedinho do seu pé agora, o cérebro precisará trabalhar antes dele. É ele que permite que você estude, aprenda, deseje... Este é o cérebro do direito... Vamos agora pensar nesta viagem que fizemos pelo nosso corpo do direito...
Qual foi a parte desta viagem pelo corpo do direito que você mais gostou? Porque você gostou tanto? Teve algo que você não gostou?
Vamos agora cada um pegar um de papel e desenhar a nossa parte do corpo do direito preferida. Ao lado escreva o que você sente e pensa sobre essa parte do corpo do direito.
Durante a dinâmica, alguns meninos relaxaram, outros permaneceram agitados. Tentando chegar um pouco mais perto deles, me abaixei para fazer carinho e tentar que relaxassem um pouco mais, mas sala era quente e pequena, o que contribuiu para que eles não relaxassem como eu gostaria.

Ao terminar a dinâmica, colhi alguns depoimentos deles sobre o que sentiram, mas achei que não seria produtivo pedir que desenhassem sobre o assunto. Distribuí massinhas e deixei eles à vontade.

Dificuldades: 1) pouco material pedagógico. O material de almoxarifado não atende crianças. Por isto, precisei comprar massinha, tinta, canetinhas, lápis de cor, tesoura, cola, l, papel criativo, cartolina, papel de presente, eva, etc , mas acho que é pouco material para muita criança e precisarei correr atrás de doações. 2) salas pouco ventiladas, pouco espaço e sem recurso pedagógico (TV, DVD, etc); 3) o lanche foi ótimo, mas demorou muito para chegar e atrasou as oficinas; 4) a gasolina ainda não foi disponibilizada.

Saldo: positivo, com toda certeza! Reconhecimento de direitos essenciais e uma primeira conversa sobre a criação do núcleo de direitos humanos. A comunidade é 10 e o PASES é uma entidade que orgulha a todos nós!

Sobre a oficina de adolescentes, sei que foi igualmente positiva pelos relatos da Veridiana.

Sigamos!

Adriana Monteiro da Silva

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