quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Relatório PEPDH – Penitenciária Feminina do Distrito Federal

Esse relatório visa descrever o andamento do projeto na comunidade carcerária da Penitenciária Feminina do Distrito Federal. Houve cerca de quatro reuniões realizadas na comunidade carcerária. Na primeira reunião ficou acordado entre a diretora da penitenciária feminina e nós, Claudia e Juliana, monitoras responsáveis pela execução do projeto que trabalharíamos com cerca de quinze mulheres. E que, a princípio, ficaríamos por conta das oficinas às terças-feiras.
Após conversar com a Ivone, diretora no Núcleo de Ensino do presídio, ela decidiu que trabalharíamos com a professora de teatro, Janilce, pois como vimos que a demanda de exercícios ligados à saúde e à consciência corporal era alta, em vista da grande ociosidade que as mulheres sofrem dentro do sistema carcerário, resolvemos trabalhar com algumas técnicas do Teatro do Oprimido, que através de jogos teatrais, procura por via do corpo, estabelecer um contato da mulher em condição de encarceramento, ou seja, com direitos limitados, para sensibilizá-la a olhar sua própria condição de opressão, causando uma possível tomada de consciência e reduzindo a reincidência carcerária. E tal técnica foi escolhida também como meio de “seduzi-las” a participarem das oficinas, já que envolvem atividades mais dinâmicas que simplesmente assistir a aulas palestrais.
Após contato com Janilce, professora de teatro, foi de comum acordo entre nós que trabalharíamos com as mulheres às sextas-feiras, no horário de 13h00min as 18h00min. Na primeira oficina, entrevistamos as mulheres de uma maneira bem informal, sentamos em círculo, e iniciamos um bate-papo, após elas relatarem suas histórias de vida, e o caminho pelo qual se encontram na situação de encarceramento, vimos que duas demandas mais urgentes se sobressaíram. A primeira era trabalhar a condição da auto-estima, e da dignidade de ser mulher, pois, todas as as presentes tinham sido presas por levarem drogas aos seus maridos na Papuda (presídio masculino), então, podemos ver que o amor pelo companheiro as levava a comprometer sua própria condição vital de liberdade, embora, claro, essa não fosse a única causa.
A segunda causa que identificamos, na verdade, mais primária, foi a necessidade financeira, pois foi relato geral por parte de todas que a baixa escolaridade e o alto número de filhos, identificados em alguns relatos, eram condições que as mantinham afastadas das possibilidades de arrumar emprego. Logo, elas se vinham sem caminho, e como não tinham coragem de pegar em armas para realizar assaltos, o meio mais rentável era a comercialização de drogas dentro do presídio masculino, pois assim, poderiam manter as necessidades da família, e cuidar das crianças ao mesmo tempo (relato delas).
Diagnosticamos então que é de vital importância para as oficinas trabalhar com elas caminhos lícitos para que elas não se tornem reincidentes no sistema carcerário. Logo, pensamos em ir a órgãos como a FUNAP – Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso para nos informar acerca da possibilidade de assistência desse órgão, e sobre os direitos de cada uma delas após o cumprimento da pena e o PRONASCI – Programa Nacional de Segurança com Cidadania. Logo, prevemos que as próximas oficinas devem trabalhar primeiramente, a questão corporal, através do teatro, com textos que tratem questões de gênero abordando a condição das mulheres na sociedade, a sexuação das funções do trabalho, e de demais atividades, e história das mulheres no Brasil. E questões de gênero ligadas à saúde sexual, como elas podem se prevenir de DSTs, e também trabalhar dentro da perspectiva de gênero a situação da “lesbiandade temporária”, pois é muito comum que elas se envolvam sexualmente com as amigas de cela, e demais presidiárias, toda vida, sentem isso como uma condição “anormal” da sexualidade dentro delas.              

Claudia Jeane e Juliana Gonçalves

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário e suas sugestões são muito importantes para nós! Seja bem-vindo(a)!